segunda-feira, 24 de agosto de 2009

A TERRA DO NUNCA

No dia 14 de Julho de 2009 minha amiga de infância, Fernanda, e eu partimos numa viagem que em princípio começa em Praga. Já de início as dificuldades começam, pois essa data é a comemoração da Tomada da Bastilha e a França está tomada por festas, inclusive a comemoração dos Bombeiros de Paris- festa de estilo pouco familiar da qual saí diretamente para o aeroporto Charles de Gaulle, movida a base de redbull- e discursos do, nem sempre bem articulado, Presidente Sarkozy.
Voamos pela Czech Airlines, ao meu lado uma menina tcheca de aproximadamente dez anos de idade não parava de vomitar e ao lado de Fernanda uma senhora idosa de seus oitenta anos não conseguia mais controlar os gases, nada como “unir as duas pontas da vida” só para começar.
Chegamos em Praga! Não sei se é pela presença constante do absinto ou pela aparência bem apessoada dos tchecos, mas essa cidade parecia um conto de fadas, certamente seria um lugar onde a “Sininho” construiria seu lar. O ar é ludibriante, além do excelente nível cultural, sendo o pintor Mucha e o escritor Kafka os principais popstars, podemos fazer uma comparação com Roberto Carlos, o rei, e Ronnie Von, o príncipe.
No ponto mais afastado de Praga existe a Academia Nacional de Arte, contemporânea, é claro que Fernanda sendo estudante de Artes Plásticas quis conhecer e eu como boa amiga e possível interessada fui junto. Depois de duas horas percebi que eu realmente não ia entender o que significam quatro blocos de cor neon na parede, e ainda restavam cinco andares a serem explorados, logo decidi ir embora... Esqueci meu guarda-chuva junto com Fernanda, o que não foi um ato de amor, mas sim de total estupidez. Óbvio que quando sai a chuva estava no seu ápice e foram duas horas de caminhada até o Museu do Comunismo, seria um pouco menos se eu não me perdesse pelas ruas medievais de Praga, com direito a banhos de carro e um infeliz humano que parou com sua Mercedes ao meu lado abaixou o vidro do carro, apontou para a minha pessoa e riu... desejei a ele uma morte lenta.
Nada como sair dos livros de história, das teorias e dos bancos das faculdades para ver realmente o que foi e o que é a realidade, chegando no Museu do Comunismo de um país que passou pelo regime, logo se percebe o clima pesado. Por outro lado também se nota o interesse e a vontade das pessoas de falarem sobre o assunto, pois por muitos anos foram oprimidas e caladas.
“Hoje, graças a Deus temos um regime democrático!”, quem me disse isso foi Milano, um rapaz de 30 anos que dirigia um “taxi-bicicleta” do qual quase sempre perdia o controle para trabalhar durante seu período de férias da faculdade de Design, qual não
é nossa surpresa que essa criatura além de muito culta falava quatro línguas, dentre elas o hebraico- fica dito o detalhe de que ele não era judeu, mas tinha morado em Israel por quase dois anos movido apenas pela vontade de conhecer o mundo e viajar. Só para mostrar o que é esse povo ímpar.
Praga é mais ou menos como a Terra do Nunca de Peter-pan, é perdida entre os tempos da infância e da juventude, feita pela fusão de três fortes culturas: a judia, a alemã e a tcheca, que ao contrário de se descriminarem se complementam. Possui a arquitetura medieval, mas o pensamento moderno, passou pelo pior dos comunismos, isso é claramente marcado na face e na voz da população, e agora prega com toda sua força pela democracia, pelo intelecto e, principalmente, pela liberdade.
Praga se resume na frase de Kafka: “Quem possui a faculdade de ver beleza, não envelhece”