quinta-feira, 18 de junho de 2009

O TAMANHO DA BAGUETTE

Eu acho impressionante como os franceses tem essa pequena tendência a se mostrarem superiores. Deve essa a razão de terem um enorme símbolo fálico no meio de sua capital, a Torre Eiffel. A verdade é que não dá para vir à Paris e voltar sem ter vontade de enforcar um parisiense, é uma espécie de batismo para os imigrantes que aqui se encontram. Bem, fui batizada, no meu caso uma espécie de segundo Bat-mitzva ... essa semana.
Chega aquela hora que você percebe que você não fala a mesma língua, não têm os mesmos costumes, não está no seu país, a lua não está na mesma posição e nem a água da privada gira para o mesmo lado. Dada a minha situação local, sem amigos, sem parentes, sem televisão, sem Prozac, sem... nenhuma. Comecei a sentir falta até dos trombadinhas, achar a vida aqui tão sem emoção – você sai de casa e sabe que vai voltar sem, pelo menos, um assalto a mão armada ou bala perdida. Quando cantarolei uma música de axé, achei melhor tomar uma atitude.
Resolvi alugar um DVD pra passar o tempo, já que aos feriados Paris fecha por inteiro. Bem, um cidadão, recepcionista da “Maison” em que me encontro, indicou-me uma locadora a quatro quarteirões de distância. Muito bem, alugado o filme, volta-se para a residência... e o filme não funcionou! Fui devolver o filme e me perdi por aproximadamente nove quarteirões. Voltei para perguntar para o dito cujo onde era a maldita locadora, e com aquele olhar arrogante ele disse: “Ahh... comment? Moi? Je ne me souvenir pas?” Não preciso dizer que foram mais nove quarteirões para achar. Mazel Tov!
Mas voltando aos símbolos, todo povo tem a maneira de ressaltar sua libido, os brasileiros pelas roupas sensuais, outros povo pelo seu extremismo radical, os americanos pelos carros enormes... mas nada disso é suficientemente “Cult” para os parisienses, por outro lado o estilo Sartre não demonstra muita sensualidade atualmente, então por que não apelar para a culinária, dependendo do seu estado de espírito, existem baguettes de todos os tamanhos...
No domingo resolvi que iria no bairro judeu, Les Marais, comer um faláfel e visitar o museu Carnavalet. Muito bem, o dia estava ensolarado, tudo estava indo como o esperado. Comi meu, grotescamente grande faláfel, e fui para o museu. Bem, o que posso dizer é que meu estômago não respeita tanto as artes da Revolução Francesa quanto eu. Foram mais ou menos quarenta minutos no banheiro. Saí quando o museu ia fechar.
Voltando para casa cansada e um pouco triste, com a minha baguette do tamanho de um brioche... mas quando entrei no metrô ouvi algo muito bonito, comecei a procurar de onde vinha, pelos corredores compridos, der repente me deparei com uma pequena orquestra de instrumentos de corda que tocava Adagio de T. Albinoni e depois uma bela versão de Canon de J. Pachebel. Não sei exatamente por que, mas me emocionei muito, e todos que estavam presentes (que não eram poucos) certamente aumentaram um pouco o tamanho de suas baguettes. Talvez Paris seja exatamente isso, o que Rémi, o ratinho estrela de Ratatuille mostra, que nem todos podem ter talento mas que o talento pode vir de qualquer lugar... até mesmo do subterrâneo da cidade-luz. Assim termina a segunda semana.

Um comentário:

  1. Olá parabéns!! Fazia tempo que eu não via um blog tão bem escrito e engraçado!! Muito bom..

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